quarta-feira, 28 de novembro de 2007

Entrevista

A entrevista a seguir foi realizada com a jornalista Bianca Giannini, repórter em economia.

1) Quais são as prioridades de uma revista na transmissão das notícias e informações aos seus leitores? Quais são os critérios para que uma matéria seja ou não aceita?

Diferente do que acontece nos jornais diários, onde as prioridades são as matérias factuais, mais quentes e nervosas, nas revistas a preocupação maior é dar um enfoque diferenciado e mais aprofundado a um determinado assunto, independente de ser um furo jornalístico ou não. Se conseguir dar um furo e ao mesmo tempo apresentar as informações completas, muito melhor. Há vários exemplos desse tipo, nas revistas brasileiras, nos últimos anos. Um dos mais recentes e marcantes foi a revista “Isto É Dinheiro”, em junho de 2005, que trouxe como reportagem de capa entrevista com a ex-secretária do publicitário Marcos Valério, Fernanda Karina Somaggio, que resultou no escândalo do mensalão.
Para que uma matéria seja ou não aceita em uma revista, dependerá muito do perfil de cada revista. Mas de maneira geral deve ser uma história bem contada, de assunto de interesse ao público a que ela se destina e bem apurada (embora nem sempre aconteça assim na prática). Um critério muito utilizado para que uma matéria entre em determinada edição é o chamado "rec" (recomendado), de interesse dos donos ou dirigentes da revista. Mas normalmente, a não ser que a revista seja muito picareta, há mais matérias de interesse editorial que as recomendadas.

2) Quais eram as estratégias da revista, na qual você trabalhou, para conquistar seu público alvo, e até que ponto estas estratégias e os demais interesses influenciavam no trabalho do jornalista?

A principal estratégia para conquistar o leitor deve ser sempre publicar assuntos de interesse desse público alvo e, certamente, bem escritos, de forma simples e direta. Além dessa condição básica, há estratégias comerciais, como usar nas matérias informações de empresas ou pessoas que possam trazer prestígio à publicação ou anúncios pagos. Por exemplo: uma revista pode falar sobre tendências da arquitetura e novos lançamentos da construção civil e na matéria, incluir informações e entrevistas de empresas ou arquitetos pré-determinados. É dessa forma que o trabalho do jornalista é influenciado, pois ele deixa de ter liberdade para escolher seus entrevistados. Também ocorre o contrário, onde uma determinada pessoa ou empresa faz parte da lista negra da revista e por isso não pode ser fonte para a matéria. Muitas vezes pautas são especificamente criadas para que interesses comerciais sejam defendidos.

3) Quais são os requisitos necessários para que um profissional seja um freelancer de sucesso?

Bons contatos, qualidade no texto e na apuração, pontualidade, comprometimento e disciplina, disciplina, disciplina..... nisso estão incluídos disciplina com os horários de trabalho e com a vida financeira (saber guardar dinheiro para os períodos de vacas magras, como fim de ano, férias, etc). Também é comum o profissional freelancer pegar mais serviços do que ele dá conta, por não saber dizer não. Outro problema: não saber dar preço. É preciso valorizar o próprio trabalho, mesmo sob o risco de perder uma determinada concorrência.

4) Ser freelancer e, acima de tudo, bom jornalista, se aprende de fato na faculdade?

Não. A faculdade é o ponto de partida. É lá que temos uma noção de como as coisas funcionam e, sobretudo, é onde devemos apurar o nosso senso crítico, ética e, claro, a técnica jornalística. Mas é no mercado, na lida diária, que o jornalista vai se aprimorando. Existe uma coisa que se chama feeling jornalístico, que infelizmente não se ensina na escola. A pessoa já tem naturalmente esse feeling ou aprende a desenvolvê-lo com a experiência.

5) Quais são os empecilhos que você encontrou para produzir matérias de qualidade, ou até mesmo com alto grau de fidelidade em relação aos fatos reais?

De variados tipos. Desde a secretária metida a besta, que acha que manda no chefe e barra o acesso, até aquele entrevistado que é amigo do diretor do jornal, que exige ler a matéria antes de ser publicada ou faz algum tipo de ameaça velada. A falta de infra-estrutura da empresa jornalística também pode prejudicar. A falta de carro, por exemplo, pode impedir que o repórter vá in loco conferir determinado fato, tendo que fazer uma apuração importante por telefone. Em vários casos a apuração por telefone não prejudica a qualidade da informação, mas em outros a presença física do repórter é fundamental. Chefe medroso também é um empecilho terrível para o jornalista. É fundamental contar com o apoio e a coragem da chefia para bancar determinadas matérias, como denúncia, por exemplo. A auto-censura também pode prejudicar a qualidade das matérias no que se refere à fidelidade aos fatos reais. É comum, por saber os interesses da empresa onde trabalha o jornalista deixar de incluir determinada informação, já se antecipando a uma possível censura da direção.
Gostaríamos de agradecer, além da jornalista Bianca Giannini por nos conceder esta entrevista, ao jornalista Gustavo Nolasco Barcelos, que possibilitou a realização desta.

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